segunda-feira, 8 de março de 2010

Interview 4 Parq Magazine


O teu trabalho tem uma componente sexual e de libertinagem raras de se ver. Como começou esse teu interesse?

Obrigado (risos), creio que teve inicio nos meus anos de universidade em Viana do Castelo. Uma cidade de si conservadora em muitos sentidos, que provocou em mim uma necessidade incontrolavel de ser espontaneo quer na forma de expressão, como na de vestir ou de saborear as minhas preferencias sexuais.
Lembro-me que depois de verem uma das minhas exposições fotograficas, alguns professores e alunos comentarem que as imagens, que eu previamente tinha disposto no chao em forma de cruz catolica, eram demasiado impactantes porque mostravam “falos erectos inseridos em vaginas ou anus…” aos quais eu posteriormente aconselhava a contornar a peça, para que se dessem conta que eram na realidade diferentes ampliações das articulações de braços, pernas e axilas. No final todos se desculparam por presumirem que só porque tinha sido eu a fazer as fotos, todas seriam sexualmente explicitas. Descobri que tinha a capacidade de fazer as pessoas questionarem os seus preconceitos e reformularem a sua estrutura de pensamento para uma maior aceitaçao da diversidade religiosa/ mental/ sexual.

Como são organizados os trabalhos fotográficos que fazes. Muito espontâneo ou pelo contrário obriga a uma organização?

São bipolares, como eu. Em alguns casos, como as fotografias de performance post-porno, são totalmente espontaneos, visto que nunca sei o que vai acontecer, e me limito a tentar transmitir um registo de actividades artisticas fora da cultura mainstream de uma forma muito documental.
Por outro lado, existe a fotografia de retrato, que consiste em varias sessões de brainstorm com as proprias pessoas que vão aparecer na imagem, estudos de luz e composição, selecçao e tratamento digital intensivo.Tenho a sorte de que todas as minhas fotos são realizadas com amigos e não modelos. São eles que realmente me inspiram a transpor a intimidade para um universo publico, os primeiros a dizer “vamos tomar banho, queres vir fazer fotos ?”

Ricahrd Kern em NY ou Araki em Tóquio exploram muito a questão do Bondage. Como te relacionas com o trabalho desses artistas, são uma fonte de inspiração?

Witkin, Mogutin, Labruce, Goldin estão mais presentes na minha fonte de inpiração. Um olhar mais quotidiano e menos produzido. Apesar de o Araki vencer aos pontos o Richard, pela sua pureza nas imagens sem pretensiosidade ou capacidade de imposição comercial.


Como caracterizas as tua imagens?

Como uma representação queer contemporanea do corpo, de generos e identidades não heteronormativas, desmistificadoras de tabus e preconceitos. Por outras palavras, retratos de pessoas autenticas das mais diversas formas, ideologias e preferencias, cujo fio condutor comum é o orgulho e o amor pela diversidade emocional e sexual. Apesar de serem altamente cruas e gráficas são mais passiveis de suscitar polemica e discussão, do que propriamente provocar uma erecção.



Para ti ainda é possivel existir margens da sociedade que possam permanecer num clima underground ?

Completamente, mas não lhes chamaria margens. Uma grande parte das actividades artisticas underground provêm de uma necessidade de uma relação mais directa entre o individuo e a arte, sem necessidade de uma mediação por parte de outros seja ela de opinião (criticos de arte), monetaria (investidores) ou logistica (galerias). Considero que na sociedade em que vivemos, existe uma ansiedade pela apreciação do lado humano, seja ele pessoal, musical ou artistico. Isso faz com que haja menos visibilidade mas ao mesmo tempo uma maior autenticidade e interesse.
            Da mesma forma que existe a prostituição e é considerada marginal, apesar de que a maioria das pessoas que recorrem a esses serviços serem de classe alta, e serem eles mesmos os responsaveis pela marginalização, existe uma ambiguidade entre os comportamentos moralmente aceitaveis e a realidade.



Barcelona é uma cidade particularmente underground, mais que outras cidades?

Apesar de ser considerada como uma referencia artistica, Barcelona esforça-se por passar uma imagem de boemia e tudo se tornou demasiado artificial e formal para se tratar de um reflexo cultural real. Isto significa que com as novas leis civicas que impedem tocar instrumentos na rua (necessitas de uma licença de artista atribuida pela camara municipal, senão confiscam-te os instrumentos) ou realizar ilustrações e grafities como forma de embelezar espaços publicos (pagas multa),  as mentes criativas viram-se forçadas a esconder-se ou simplesmente mudar para um sitio onde se incentive a expressão individual. Como é o caso actual de Berlin ou Buenos Aires, que se estão a converter nas mecas artisticas por excelência. Apesar disso existem alguns espaços de cultura livre que valem mesmo a pena conhecer. Se quiserem saber quais, estejam á vontade pra me perguntar …


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